A pouco na minha crítica de “Transformers: O despertar das feras” eu comentei sobre o estado atual do cinema hollywoodiano, que denominei de pós-pós-modernismo, que seria esse cinema de algoritmo que está muito mais preocupado em padronizar suas obras, juntamente com o excesso de estímulos. Por mais que esse cinema construa (poucas vezes) narrativas divertidas, essas histórias acabam se perdendo em uma espécie de automatização, uma padronização focalizada no que os fãs querem (ou pensam que querem).
"The Flash", o aguardado filme baseado no famoso super-herói da DC Comics, chega aos cinemas com uma proposta “ousada”, mas cai na padronização rotineira do cinema atual. Embora tenha alguns momentos empolgantes, sobretudo, na forma que o diretor Andy Muschietti decupa ação — a frontalidade das cenas unidas com a demasia da câmera lenta criam um estilo epopeico divertido que combina com a proposta do filme — o longa sofre com uma narrativa sacal, que não encanta tão pouco envolve.
O trabalho de Andy lembra-me um pouco das capacidades construtivas de Christopher Nolan, pois ambos sabem muito bem como compor ótimas cenas de ação mas perdem-se na elaboração emocional dos personagens. Se ele traz certa frontalidade na ação, existe uma ausência dela no drama. Sua câmera está muito mais “preparada” e voltada para contar uma história de humor e ação do que melodramática.
Devido a uma automatização, os filmes pós-pós-modernistas acabam por se obter de uma genericidade cinematográfica, seguindo uma fórmula prática e segura. The Flash, portanto, não foge disso, fazendo um filme que não se diferencia das últimas produções do gênero. É curioso pensar como esses filmes tem certa dificuldade em estabelecer um bom terceiro ato, filmes como "Shang-chi" e o próprio "The Flash" começam bem, com um ritmo divertido e estabelecido mas se perdem em sua própria história.
Existe uma teoria do cinema que chama-se “Mito do cinema total” onde o autor e crítico André Bazin formula uma ideia de que o cinema nunca existiu, pois desde sua criação a arte cinematográfica tem a necessidade de se aproximar da realidade — afinal, o cinema surgiu como um avanço da fotografia — que até então nunca foi alcançada. Podemos, então, sentir essa ideia bastante presente nesse cinema pós-pós-modernista onde o espectador precisa dessa realidade mesmo em filmes de extrema fantasia como os de super-heróis.
Esse desejo inalcançável(?) faz com o público crie uma fascinação pelos efeitos especiais(CGI), fazendo-nos refletir sobre esse realismo que não tem (mais) tanto a ver só com a imagem, mas com a sensação de lógica que o espectador anseia. Mas onde se encontra a lógica em um filme de super herói que pode viajar no tempo? Diante disso, o CGI “bonecão” de The Flash acaba por ser tornar o elemento que mais gosto no filme, essa imagem irreal perpassa pela ideia fantasiosa do próprio personagem. Em última análise, "The Flash" é um filme que não se diferencia dos filmes do gênero. Com um trama comum que sofre das limitações deu seu estilo e autor. Embora apresente momentos visualmente interessantes, "The Flash" não consegue encontrar seu ritmo e facilmente cairá no esquecimento.
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