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Crítica | Missão: Impossível - acerto de contas

Foto do escritor: Caique HenryCaique Henry

Atualizado: 14 de fev. de 2024


O cinema de ação é um dos gêneros mais populares do cinema, levando uma massa às telonas desde o início. Suas cenas intensas de combate, perseguição, explosões e aventura elevam o público desde os primórdios da sétima arte. O início do cinema de ação remonta aos exórdios do próprio cinema, “O grande roubo do trem” datado do início do século XX, é considerado por muitos o primeiro filme de ação. Ademais, foi durante essa era do cinema mudo que o gênero começou a se destacar, obras como “Os três mosqueteiros”, “As aventuras de Robin Hood” e “O ladrão de Bagdá” do astro Douglas Fairbanks apresentavam sequências de ação empolgantes, com acrobacias e lutas coreografadas.


Durante o cinema mudo, a frontalidade era uma escolha estilística formal bastante popular (muito devido à simplicidade da técnica). As cenas de ação eram geralmente filmadas em planos fixos, com a câmera posicionada frontalmente em relação à ação. Esse vínculo mais direto com o espectador permitia que ele não só experimentasse a cena com clareza, mas imergisse na experiência. Essa frontalidade não estava apenas na técnica, mas também unida à narrativa desses filmes. Boa parte dessas obras eram estruturadas de uma maneira simples, portanto, a performance frontal das cenas de ação correspondia a essa abordagem narrativa mais direta.



Atualmente, os cineastas de ação buscam criar sequências dinâmicas e visualmente impactantes, utilizando recursos como ângulos de câmera criativos, movimentos de câmera complexos e técnicas de edição elaboradas. Eles se aproveitam de diferentes perspectivas, como planos detalhes, câmera na mão, entre muitas outras para trazer uma sensação de imersão e movimento — quase como uma “gameficação” cinematográfica. Por mais que essa câmera fixa na ação tenha ficado em “desuso”, bons diretores costumam usar dessas técnicas mais dinâmicas ainda com um olhar frontal, como acontece em “John Wick” e “Missão Impossível 7”. Essa frontalidade é fundamental na criação de estímulos, tendo em vista que o cinema de ação é um grande provocador.


A verdade é que há uma diversidade estilística bastante característica do cinema de ação contemporâneo. Os autores desse cinema, em maioria, têm a liberdade de experimentar formas e abordagens visuais para se adequar à narrativa e ao tom do filme. Em “Missão Impossível I”, De Palme traz uma ação esteticamente mais maneirista, utilizando movimentos de câmera fluidos e uma “experimentação” visual “diferente”. Enquanto John Woo (Missão Impossível II) faz um filme mais estilizado, com cores vibrantes, composições visuais ousadas e uma edição mais frenética. Mesmo com tanta diferença formal, ambos os diretores buscam essa aproximação mais direta com o espectador, afinal nós somos peças fundamentais para esse gênero, ou melhor, para essa arte.



Sendo assim, “Missão Impossível: acerto de contas parte um” vem a se tornar uma grande homenagem ao cinema de ação, tanto na forma como McQuarrie se comunica com quem assiste, quanto na persona do Tom Cruise. A maneira como esse filme gira em torno do Ethan Hunt (Tom Cruise), por exemplo, contorna a ação física e as acrobacias radicais do cinema clássico de Buster Keaton, ele que é amplamente conhecido por acrobacias tão perigosas quanto as de Cruise. Os movimentos corporais de Ethan são tão importantes que o ato de correr ganha muito significado para a tela. Ver o nosso herói correr é constatar o perigo iminente, é sentir a presença do tempo — cada segundo importa. Correr que por muito tempo foi caracterizado como ato de liberdade, nas mãos de Christopher ganham outra conotação, adquirem um valor de crise e ameaça.


A tensão está mais intensa neste sétimo filme, muito mais potente do que qualquer outro filme da franquia, especialmente na maneira como é retratada visualmente. O diretor Christopher McQuarrie constrói seu filme de forma ritmada, como se a cada momento ele fosse elevando essa tensão. No entanto, o ponto-chave de sua abordagem estética é o uso dos closes claustrofóbicos que aprisionam os personagens e sufocam o espectador. Essa tensão transmitida pela imagem captura os gestos inquietos, os olhares assustados e o suor do medo. Aliás, adoro a dinâmica que Christopher concebe em seus diálogos, essencialmente quando associados aos cortes da montagem — a cena dos agentes da CIA logo no início do filme é aula de direção. A combinação desses elementos visuais com a trilha sonora inquietante (até mesmo sua ausência) implementam uma pulsação aflitiva que amplifica os batimentos cardíacos. É uma imersão profunda, no qual o espectador mergulha e se envolve completamente com a trama, com os personagens e, principalmente, com o medo. A vista disso, M:I:VII explora certos elementos do terror, tanto na perspectiva do medo como também na perspectiva da paranoia.



Ethan Hunt sempre esteve envolvido em lutas para salvar o mundo de ameaças, como guerras nucleares. No entanto, dessa vez, ele enfrenta algo ainda mais assustador(?), uma ameaça tão próxima e palpável quanto poderíamos imaginar: o domínio das Inteligências Artificiais (I.As). É interessante observar como o filme busca estabelecer essa conexão com o mundo real através de sua narrativa, afinal de contas as IAs têm ganhado bastante destaque e se tornado pauta de discussões atualmente. A presença dessa temática no filme cria uma atmosfera que beira o terror, uma vez que nos faz refletir sobre os possíveis impactos e as consequências desse arbítrio tecnológico. O medo desse desconhecido tão próximo, de ser substituído por máquinas inteligentes e da perda da nossa autonomia e liberdade são componentes que podem gerar uma sensação de angústia e pânico.


O filme explora essa inquietação ao retratar o confronto direto do protagonista com essa ameaça cibernética e na maneira como McQuarrie retrata essa “Entidade” na narrativa. M:I:VII busca estabelecer uma relação entre a ficção e a nossa realidade, levantando problemáticas sobre o avanço tecnológico e o modo que interagimos com ela. Essa abordagem produz um clima de tensão e inquietação, onde o terror se manifesta através da incerteza e da sensação de que a humanidade pode estar perdendo o controle sobre suas próprias criações.


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