top of page

Crítica | Meus sogros tão pro crime

Foto do escritor: Caique HenryCaique Henry

Atualizado: 14 de fev. de 2024


A comédia de ação é um subgênero do cinema que permanece desde os primórdios da indústria cinematográfica, os filmes mudos, por exemplo, já apresentavam tal união do cômico com a ação, afinal tais gêneros proporcionam estímulos diretos no espectador — como a adrenalina e a risada — sendo, portanto, uma grande fonte de entretenimento ao público. Diante desse período inicial do cinema, esse subgênero trabalhava por meio dos exageros do corpo, como os tombos e cambalhotas. No entanto, foi em meados da década de 20 com Buster Keaton que a comédia de ação começou a se popularizar. Keaton se destacava por suas habilidades físicas que gerava gargalhadas no público e por suas peripécias perigosas que chocavam o espectador. Durante os anos 30 e 40, os Irmãos Marx, com seu humor rápido e diálogos afiados, e os filmes de Laurel e Hardy (O gordo e o magro), conhecidos por suas trapalhadas e situações hilariantes, foram grandes destaques. Mas foi na década de 80, que a comédia de ação alavancou, filmes como "Duro de Matar", “Beverly Hills Cop” e “Police story” se tornaram grandes sucessos, misturando ação intensa com toques de humor. Entretanto, a comédia de ação em certa medida, vem sofrendo desgaste ao longo do tempo, a indústria, sobretudo a Netflix, muitas das vezes parece estar presa a uma fórmula repetitiva e deteriorada. Embora haja exceções (fora e dentro da Netflix) notáveis, é difícil ignorar a sensação de que muitos filmes nesse subgênero se tornaram constrangedores, repetitivos e excessivamente dependentes de piadas desconexas e péssimas direções de ação.



Sendo assim, temos "Meus sogros tão pro crime" que conta a história de Owen (Adam Devine) um jovem gerente do banco que está super empolgado para se casar com o amor de sua vida, Parker (Nina Dobrev). De repente os seus sogros (Pierce Brosnan, Ellen Barkin) misteriosos e descolados, chegam à cidade. Horas depois dessa chegada repentina seu banco é roubado pelos notórios Bandidos Fantasmas e Owen fica com uma terrível suspeita de que seus sogros são os terríveis e famosos bandidos.


O filme dirigido por Tyler Spindel até tenta criar uma narrativa divertida, seus primeiros minutos empolgam, afinal Adam DeVine tem uma boa presença de tela nesses comédias escrachadas e exageradas. No entanto, ao andar da narrativa Tyler parece perder-se em sua própria direção, a sua decupagem acaba mergulhando na fórmula. O genérico ganha destaque — dá a sensação que a Netflix lança 30 filmes desse por mês — nada de diferente e tudo em tela parece desconectar o espectador — não culpo se algumas pessoas desistirem de assistir.


É comum que tais filmes deleitem-se no ridículo, onde na maioria das vezes funciona em uma proposta visual caricata bem planejada, como boa parte dos filmes protagonizados por Jackie Chan. Contudo, o ridículo ganha outra conotação nas mãos de Spindel, ou melhor, aufere seu significado original. Embora existam alguns bons momentos, no geral os trocadilhos não encaixam-se com a situação proposta pela imagem, as gags visuais e o humor físico que são característica clássicas desse subgênero, geram muito mais estranhamento do que gargalhada, fazendo com que o humor tão poderoso de DeVine perca força.



Tyler Spindel acaba negligenciando a construção de uma narrativa coesa em favor de uma sucessão frenética de piadas sem tempo ou sentido. Por mais que pareça proposital (não tenho dúvidas que seja), essa exacerbação desorienta e afasta o espectador de qualquer estímulo visual e sensorial que a comédia de ação venha a gerar. Esse problema estrutural, formal e narrativo não se apresenta apenas na comédia, mas também na ação. Há, portanto, uma falta de equilíbrio entre as cenas de ação e os momentos de comédia.


A construção de uma boa cena de ação em filmes como este tende a ser um elemento crucial para a concepção da empolgação do público, como comentei anteriormente. No entanto, em alguns casos, essas cenas podem apresentar certos problemas, sobretudo, quando o diretor não sabe lidar com elas em tela. Tyler Spindel, infelizmente, torna-se um fortíssimo exemplo, pois a maneira como ele filma e movimenta sua câmera diante da ação é desedificante, apresentando sequências de perseguições de carros e tiroteios sem trazer nada de emocionante. Isso pode resultar em uma relação entre tela e espectador sem nenhum tipo de impacto.


No geral, "Meus sogros tão pro crime" segue à risca a genericidade tão comum nos filmes de comédia de ação da Netflix, um subgênero que é tão apreciado pelo público geral desde que o cinema é cinema, está rafando-se cada vez mais. Embora haja produções que conseguem trazer frescor ao gênero — como o recente “Esquema de risco: Operação fortune” — muitas vezes nos deparamos com filmes que carecem de criatividade, personagens desenvolvidos e uma abordagem equilibrada entre ação e comédia, tal qual “The Out-laws”.

0 visualização0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


Post: Blog2_Post
bottom of page