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Crítica | Meu vizinho Adolf

Foto do escritor: Caique HenryCaique Henry

Atualizado: 14 de fev. de 2024




A memória é o “elemento” mais importante da nossa existência. Afinal é ela que cria o “eu”, ou seja, a identidade pessoal — somos produtos das nossas memórias, das nossas experiências, dos nossos aprendizados e da nossa história. A memória, no entanto, não retrata uma realidade perfeita, pois a memória sofre de influências emocionais e experimentais. Reconstruir a memória pode ser um processo lento e muitas das vezes falho. Ela é um reflexo natural do tempo. É uma mensagem inconsciente de que o tempo está presente e que é passageiro. Memória é o tempo e nós somos produtos do tempo. Meu vizinho Adolf, por sua vez, busca falar sobre o tempo e as experiências da memoria, em uma comédia que usa do seu humor irônico e satírico, pra ilustrar o terror e o pavor de uma guerra antiga. Por mais que o tempo passe as memórias continuem, e o Sr.Polsky mostra esse medo no seu olhar. Podemos até achar certa graça na maneira carrancuda e ranzinza do protagonista - é meio estereotipado até -, mas esse comportamento é mais complexo que aparente ser. Afinal de contas, Polsky é amargurado pela saudade de sua família e atormentado pela idealização de que seu vizinho, na verdade seja, seu maior inimigo. Essa idealização não é por acaso, todos os gatilhos foram acionados por um simples olhar - o olhar tem um papel fundamental aqui, é por meio dele que toda a narrativa caminha, seja pelo olhar eterno de uma fotografia, ou o olhar do medo.

Sinto que o filme tenta falar sobre uma ideia meio absurda, de que temos que aceitar os absurdos do mundo como uma condição de vida. De que Sr. Polsky deve deixar o passado para trás e aceitá-lo como é, mas ao mesmo tempo entender a sua revolta diante desse absurdo, diante dessa condição tão injusta. A filosofia do absurdismo versa sobre isso, esse confronto entre homem e o mundo, entre aceitação e revolta.


No entanto, sinto uma certa desconexão por parte do olhar do diretor, sua forma não casa com seu conteúdo, sua câmera não cria um laço entre tela e espectador - sinto-me distante daqueles personagens, até mesmo nos momentos mais dramáticos, Leon Prudovsky não consegue criar esse elo. Sua comédia não cativa — David Hayman sustenta bem essa comedia que falha em muitas situações, e por mais que a "moral" e a mensagem esteja presente, sinto falta de uma cativante ligação, entre público e obra.


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