Nos últimos anos enfrentamos um mundo em um contexto de pandemia e crise, em circunstâncias de muitas perdas, elevando portanto, inúmeras reflexões sobre os sentimentos humanos como o luto e a melancolia. O ser humano, desde os seus primórdios, nunca soube lidar com a perda — afinal somos feitos para sentir e explorar cada sentimento que nos foi dado, sendo a dor uma das mais difíceis de lidar.
Não é da natureza humana estar conscientemente preparado para lidar com a perda, por isso, o luto é um processo, um desenvolvimento humano — um trabalho de mente e alma. Freud certa vez disse que “o luto é um processo psíquico pelo qual a realidade prevalece, e cumpre que ela prevaleça ensinando-nos a viver apesar de tudo, a usufruir apesar de tudo, a amar apesar de tudo”. Ou seja, precisamos passar por cada etapa que a tristeza nos propõe, que a realidade da vida tende a nos colocar no caminho da aceitação.
Otto, portanto, passa por cada etapa da sua dor mas encontramos ela na mais difícil situação: a negação. Negar a sua perda é o maior desafio que o luto pode nos dar, nada faz sentido, a vida perde sua cor. Otto não apenas perdeu sua esposa, mas com ela se foi sua vontade de viver, a dor é intensa demais para suportar ou é o que ele pensa. O mais interessante (bonito) de observar é que por mais que Otto tente por fim a sua vida, o universo (ou a presença austral de sua esposa) o impede.
O diretor constrói muito bem nessas cenas a tensão( de uma tentativa de suicidio) e o humor (da quebra de expectativa), na realidade “O pior vizinho do mundo” sustenta-se na tensão/drama e no humor. Talvez o ponto mais alto deste filme seja seu humor irônico, às vezes até ácido. O pior vizinho do mundo é um filme que entrega o que se propõe a entregar: reflexão sobre o luto, risada e muito amor.
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