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Crítica | Certo agora, errado antes

Foto do escritor: Caique HenryCaique Henry

Atualizado: 14 de fev. de 2024


Hong Sang-soo, em boa parte de seus filmes, flerta com a metalinguagem mas parece que ela está muito mais presente em "Certo agora, errado antes", não apenas pelo protagonista ser um diretor, mas na própria estrutura cênica. "Certo agora, errado antes" é compostamente cênico, os planos e a forma como os personagens se comportam nos ambientes lembra-me o teatro. Hong, tem um método próprio de conduzir a imagem de seus planos no filme, ele parece sugerir que observemos aquele mundo como um palco, afinal todas elas seguem um "rigor" estruturalmente formal de encenação — isso torna toda sua obra ainda mais poética e significativa. Um olhar que perpassa entre o real e o fictício, o verdadeiro e o falso.


Por meio dessa estrutura, ele brinca com as possibilidades que a própria ideia de fazer cinema possibilita, entre errar e acertar, Sang-Soo coloca seus personagens em um passeio emocional, um reino de oportunidades, onde um mesmo enquadramento pode ter significados diferentes. Aqui ele explora variantes das mesmas situações — ressignificando seu próprio filme (mais uma vez a estética cênica), seja a partir dos gestos, das frases ou imagens que funcionam como poesia dentro de sua obra.


Hong Sang-Soo redefine o banal e recontextualiza, transformando-o no extraordinário. Ele constrói um mundo de trivialidades, nada além delas, afinal isso não é a vida? Seu filme se dedica a momentos vividos, seja as conversas profundas e despretensiosas, os flertes desajeitados e diálogos incômodos, ou até mesmo o silêncio constrangedor que surge durante as conversas. O cineasta representa a complexidade da banalidade humana, o hermetismo do cotidiano.


Me encanta o seu voyeurismo, sobretudo, a forma como ele conduz o nosso olhar ao movimentar a câmera entre os espaços. Hong desbrava o ambiente com seus movimentos, seja em um close íntimo buscando as expressões ou um zoom-out de constrangimento. O diretor nos faz parte de sua obra — inúteis porém presentes. Isso faz com seus atores sejam fundamentais em seu filme, pois somente o talento corporal deles pode gerar a nossa imersividade. Seja na forma como eles movimentam a cabeça em um ato de vergonha, ou alteram seu tom de voz em um momento de revolta, são todos sutis e espontâneos, ou seja, verdadeiros (e falsos).



Todas as suas obras tem algo em comum, o ser humano e suas angústias. Seu interesse está em como nos comportamos diante de nossas solidões, de como nos comportamos diante de um mundo efêmero. É, portanto, em conversas mundanas em cafés ou bares, que Sang-soo explora a complexidade de seus personagens (Hee-Jeong e Cheon-Soo), as suas angústias, seus medos e desejos. A partir disso, o cineasta examina a profundidade de Hee-jeong e Cheon-soo, mostrando para o espectador o que torna eles quem são. Gosto de como Hong nos possibilita observar os diálogos - os planos são sempre médios, sem cortes ou contra planos, ou seja, o ritmo nunca é despedaçado, havendo espaço até mesmo para as legendas (visto que ele tem uma popularidade internacional).


“Não tenho amigos. Nenhum. Tenho homens a quem vejo, tenho pessoas que eu gosto…De vez em quando, me reúno com pessoas, mas ninguém é amigo”.

O cinema de Hong Sang-Soo observa o ser humano e em como ele esta disposto no mundo de solitários, um mundo cansado, desgastado, inconstante, intenso e repleto de encontros e desencontros.


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