top of page

Crítica | Fale comigo

Foto do escritor: Caique HenryCaique Henry

Atualizado: 14 de fev. de 2024


O cinema de terror tem tradicionalmente explorado temas e narrativas que envolvem a juventude, filmes como "A hora do pesadelo", "Pânico" e "Halloween" frequentemente exploram a falta de controle emocional, comportamentos imprudentes ou expressões típicas da inexperiência dos jovens. No entanto, o terror da geração Z traz consigo uma nova abordagem, amalgamando o estereótipo do grupo de jovens enfrentando situações aterrorizantes com elementos contemporâneos, que incorporam o horror vivenciado pelos jovens da era digital. Essa abordagem frequentemente assume um tom irônico ou satírico, alinhando-se com a tendência dessa geração de usar tais elementos em sua comunicação. Este é um enfoque que se propõe a explorar como os jovens da geração que cresceram com a internet e as redes sociais reagiriam quando confrontados com medos extremos.


Dessa forma, as redes sociais desempenham papéis variados nessas narrativas, por vezes se manifestando de forma sutil, outras vezes assumindo um papel mais proeminente. No entanto, é inegável que os dispositivos digitais adquirem uma importância crucial no terror da Gen Z. Produções como "Morte, Morte, Morte" recorrem à internet para satirizar o temor relacionado à falta de conexão Wi-Fi, enquanto filmes como "Fale Comigo" exploram até que ponto os jovens estão dispostos a ir para obter visibilidade online, viralizar conteúdo e conquistar atenção.



É perceptível, portanto, que "Fale Comigo" revela uma certa inspiração do ótimo filme "Corrente do Mal", pois ambos os filmes utilizam do elemento provocador como catalisador do terror. Em "Fale Comigo", a mão embalsamada funciona como um objeto que se assemelha a uma substância psicoativa, "alucinando" os jovens e transportando-os para um mundo de diversão e prazer, ao menos até que todos os elementos da situação tomem um rumo catastrófico. No caso de "Corrente do mal", que emprega elementos de terror para abordar doenças sexualmente transmissíveis, "Fale comigo" faz uso de uma alusão ao universo das drogas.


Este estilo de abordagem do cinema de terror da geração Z demonstra uma astuta sensibilidade à cultura contemporânea, à presença onipresente da tecnologia digital e às atitudes da juventude em relação à exposição online. Ao incorporar esses elementos e transformá-los em pontos centrais da narrativa, o cinema de terror da geração Z cria uma conexão intrincada entre os medos universais da humanidade e as ansiedades específicas dessa geração, resultando em uma experiência cinematográfica que é tanto relevante quanto cativante para seu público-alvo.


Dessa maneira, em "Fale Comigo", busca-se estabelecer uma conexão entre a narrativa sobrenatural clássica e elementos contemporâneos. É interessante observar como o filme utiliza esses elementos de terror nos primeiros minutos não apenas como uma metáfora sobre vícios, mas também como um refúgio social. Isso se mostra na motivação dos jovens protagonistas, Mia e Riley, que usam da mão "demoníaca" para adentrarem nesse universo, já que os adolescentes frequentemente anseiam por encontrar um senso de pertencimento. Em outras palavras, o medo clássico é combinado ao medo moderno, incorporando as ansiedades ligadas à necessidade de pertencer.



Além disso, o longa se destaca por sua introdução cativante, revelando um primeiro ato repleto de momentos visualmente interessantes. Admiro a maneira como os diretores orquestram o ritmo por meio da montagem e incorporam elementos gráficos do terror, habilmente alinhados ao contexto da Geração Z. Ou seja, Danny e Michael Philippou demonstram um domínio incontestável em sua mise-en-scène, especialmente quando a trama mergulha na efervescência da juventude, explorando temas centrados na diversão e nas interações nas redes sociais. Na montagem, é adotada uma estilização "jovial" de hiperestímulos, que se integram de maneira harmoniosa à estrutura cênica do filme (mise-en-scène). Um exemplo notável acontece na sequência em que os jovens consomem a mão psicoativa de maneira excessiva, nela os diretores aplicam uma estilização aos cortes e à montagem, criando um ritmo quase festivo ou "baladeiro". Contudo, ao mesmo tempo, mantêm o espectador em constante suspensão, antecipando que algo negativo possa acontecer a qualquer momento.


No entanto, conforme a narrativa avança, "Fale Comigo" tenta abranger uma ampla gama de gêneros, indo desde o drama familiar até o romance, e nesse esforço, acaba por se perder em sua própria história. Parece que o longa dos irmãos Philippou deixa completamente de lado suas propostas iniciais, que incluíam a abordagem direta, a conexão entre o terror clássico e a contemporaneidade e a estilização visual. A mudança de direção aparenta estar atravessando uma crise de identidade, algo amplamente recorrente nesse contexto denominado de "pós-Terror", que constantemente evita se entregar a uma abordagem mais frontal, e busca cultivar um apelo de natureza mais "intelectual". Nesse sentido, "Fale Comigo" concentra-se muito mais no trauma do que no horror direto, o que o mantém em um território comum e monótono.


24 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


Post: Blog2_Post
bottom of page