"Alma Viva" é uma obra cinematográfica que se destaca pela maneira sensível que a diretora aborda temas profundos, como o pós-morte, o luto e as dinâmicas familiares, através da perspectiva de uma criança. A habilidade dela de mesclar o naturalismo imagético com a fantasia da fé é um dos pontos mais interessantes desse filme, pois permite ao público explorar a relação entre o mundo material e o mundo espiritual. Através de uma decupagem naturalista, a diretora consegue dar vida a elementos fantásticos, tornando-os tangíveis aqueles que tem fé. Nesse contexto, a fé é apresentada como a força do amor que Salomé nutre por sua avó falecida. Essa conexão transcende o simples vínculo familiar e se torna quase uma relação mística que atravessa gerações distantes.
É notável a forma como a diretora estabelece uma dicotomia entre o real (naturalismo) e a fé (fantasia) - a escuridão como os momentos fantásticos e a luz como o realismo material. Essa dualidade é interessante de se observar, nos leva a refletir sobre a complexidade da existência humana e as diversas formas de lidar com a perda. Além disso, tais elementos imageticos abraçam uma ideia do genero do terror, sobretudo, na maneira como Cristèle decupa essas cenas (não é que de medo mas os componentes tão lá, presentes na imagem). A abordagem da diretora em retratar tudo isso na perspectiva de uma criança nos convida a enxergar esses temas através dos olhos da inocência e da imaginação, o que nos proporciona uma visão mais sensível e tocante do pós-morte e do luto. Apenas uma criança teria o poder de se conectar tão profundamente com a fé, nesse caso, o amor.
Gosto da maneira como a diretora utiliza os recursos visuais para representar a jornada emocional dos personagens. É notável como ela habilmente emprega elementos como a luz e a escuridão, desvelando uma metáfora visual que transcende a mera estética cinematográfica. Além disso, a forma inteligente com que ela mescla a separação entre o real e a fantasia, como dois lados de uma mesma moeda, adiciona profundidade e complexidade à narrativa, enriquecendo a experiência do espectador.
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