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Crítica | Telefone preto

Foto do escritor: Caique HenryCaique Henry

Atualizado: 14 de fev. de 2024


O cinema de terror é, com toda certeza, um gênero muito importante para a história do cinema(arte e indústria), afinal tal gênero além de discutir sobre política e sociedade, são relativamente baratos de se fazer. Filmes como “O massacre da serra elétrica”, “Halloween” e “Host” são exemplos de baixo custo e grande lucro. Mesmo que todos esses filmes de horror tenham em mente o medo, cada longa tem sua abordagem narrativa — “Halloween”, por exemplo usa das luz e sombra, e da trilha sonora para causar o medo, enquanto “Host” usa do bom e velho jumpscare. Sendo assim, o “Telefone preto” chega aos cinemas (nesta quinta-feira, 21) com uma abordagem diferente, unindo o melhor dos dois mundos — a tensão criada pelo impacto imagético e o pânico gerado pelos jumpscares.


Scott Derrickson retorna a sua zona de conforto que o cinema de terror, depois de passar pelo Universo Cinematográfico Marvel com o interessantíssimo Doutor Estranho (2016). Aqui ele baseia-se em um um conto de Joe Hill, autor das revistas em quadrinhos, Locke & Key. Na trama Finney Shaw um tímido, mas perspicaz rapaz de 13 anos, é raptado por um sádico assassino que o enclausura no porão à prova de som, onde gritar não vai resolver nada. Quando um telefone desligado começa a tocar, Finney descobre que consegue ouvir as vozes das vítimas anteriores do assassino. E elas estão decididas a assegurar que o que lhes aconteceu não aconteça a Finney.



Se observarmos com atenção percebemos que “Telefone preto” não passa de um roteiro simples, até mesmo clichê de histórias de serial killer. No entanto, quando bem dirigida até os piores roteiros podem tornar-se grandes filmes, e Scott sabe muito bem disso. Derrickson cria uma atmosfera única para seu filme, que mesmo ambientando nos anos 70, consegue subverter o valor da nostalgia ao transformá-lo em um período de medo e terror. Sua fotografia fosca e levemente escurecida reforça essa ideia — além de relembrar bastante de clássicos como o mencionado Halloween e sua estética crua. A iluminação, por sua vez, que “brinca” com a luz e as sombras transborda horror em sua imagem.


Além da fotografia temos a presença do Sequestrador, que com tão pouco tempo de tela, transmite terror a cada momento de sua presença.O fato de nunca sabermos do que ele é capaz cria esse pavor em torno dele, afinal o medo do desconhecido é o mais poderoso dos medos. Além disso, Scott não explica qual é a motivação do sequestrador, muito pelo contrário, tudo parece ser um prazer para o “vilão”. Ele faz por pura e simples maldade (e sendo bem sincero, isso já basta para ser extremamente assustador).



Ao falar do sequestrador é obrigatório mencionar a atuação de Ethan Hawke, que é a união de como o diretor o coloca em cena (o dirige) com a interpretação corporal do ator. Afinal de contas, a forma que Scott enquadra e posiciona Ethan em tela, casada com a maneira que Hawke movimenta-se, senta, olha e fala que cria esse personagem tão assustador que é o “Grabbler”. É muito comum que filmes de terror/suspense utilizem de trilha sonora repetitiva para ditar um ritmo incômodo e agoniante, como Tubarão que tem apenas dois acordes em sua clássica trilha sonora. Sendo assim, Derrickson aproveita-se disso e faz diferente, ao invés de uma trilha marcante, ele usa da mixagem de som e do toque frequente do telefone (preto) para agonizar o espectador. O telefone na parede toca inúmeras vezes, com seu som agudo, e a cada toque surge um novo medo.


Gosto muito da ideia sobrenatural colocada pelo roteiro e ainda mais de como Derrickson decupa. Os jumpscares pontuais (talento que poucos tem), pois vão além do genérico e funcionam perfeitamente para a construção da tensão. Ele concebe uma mise-en-scene muito interativa, prendendo e manipulando as sensações de quem assiste. Há, portanto, um olhar perspicaz por parte do diretor ao fazer um cinema de terror moderno e clássico ao mesmo tempo. Um olhar que vai marcando cada vez mais o seu território no cinema de gênero, sendo “Telefone preto” um grande retorno com tudo que um terror precisa ser.



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