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Crítica | Os banshees de Inisherin

Foto do escritor: Caique HenryCaique Henry

Atualizado: 14 de fev. de 2024


Martin Mcdonagh é um autor que coloca em perspectiva a humanidade da forma que ela é: confusa, “defeituosa” e questionável. Ele tem um olhar sincero sobre a forma que ele observa o comportamento humano, essas histórias normalmente são acompanhadas de um humor irônico e desconfortável em meio a tantos caos e temas tão pertinentes. Em 2017 por exemplo, ele traz em “Três anúncios para um crime” um relato forte sobre feminicídio e negligência policial, tudo isso carregado de muita emoção e humor — isso acontece em “Os Banshees de Inisherin”, que em meio a questionamentos de solidão, depressão e existência, uma amizade é definitivamente interrompida, e assim, acompanhamos as consequências que afetam a todos que circundam os protagonistas.


Interessante como tudo que vemos em tela tem um contraste irônico — a ambientação da pequena ilha irlandesa é magnífica e traz uma sensação de liberdade, no entanto, a maneira que Martin filma seus espaços vazios e a forma que ele posiciona a sua câmera, também transmite-nos uma sensação de solidão. É como se liberdade e solidão não estivessem tão distantes uma da outra, como se a melancolia e a alegria fossem grandes amigas. A beleza de Os Banshees de Inisherin está, no entanto, em como Mcdonagh conta esta narrativa, voltando o nosso olhar para muito além das ações dos personagens, mas na importância de refletirmos e debatermos sobre os motivos que levaram Colm Doherty (Brendan Gleeson) a tomá-la e sobre a dificuldade que Pádraic (Colin Farrell) tem de aceitá-la.


A solidão de Colm, que é constantemente interrompida, pode ser reflexo de uma depressão. Ele teme o esquecimento, não à toa menciona muitas vezes que precisa ficar sozinho para escrever sua música e nunca ser esquecido, afinal a arte é eterna. Esse seu medo o afasta do mundo e o derruba em uma crise existencial profunda. O peso da idade pressionando com toda a força faz com que ele questione se tudo o que ele viveu valeu a pena. Colm nos faz pensar como a vida é decepcionante, como estamos constantemente correndo atrás de algo que nem sabemos o que é. Nós não nos permitimos contemplar a vida e boas amizades porque não queremos ser esquecidos e precisamos criar nossas próprias músicas para sermos eternos.



Mas em contrapartida, o diretor ironiza tudo isso com Pádraic, que não sente a necessidade de ser eterno para o mundo, mas em marcar a vida daqueles que ele ama. Para Pádraic, ser importante para seus animais, sua irmã e seus amigos já é motivo de uma vida plena. Pádraic aprecia as coisas mais “banais” da vida. Seu medo, diferentemente de Colm, não está em ser esquecido pelo mundo, mas em ser abandonado. Sendo assim, Colm necessita da eternidade, enquanto Pádraic precisa de amor. Cada um desses personagens tão complexos tem uma forma de lidar com seus medos e seus fantasmas. Cada um lida com seu isolamento de maneiras distintas, o que torna Os Banshees de Inisherin tão humano.


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