Suzanne Collins é, incontestavelmente, uma das mais notáveis autoras contemporâneas quando se trata de conceber um universo totalmente novo e singular. O que ela realiza com a trilogia Jogos Vorazes é simplesmente extraordinário, uma verdadeira obra-prima. O aspecto mais impressionante reside na forma como, dentro de uma trama política, ela elabora um ambiente completamente caótico, permeado por dor e sofrimento, explorando não apenas a ação, mas também a psicologia de seus personagens. Jogos Vorazes, por sua essência, é um livro que aborda traumas, medos, sacrifícios e dor. Todos os personagens, especialmente os vitoriosos, carregam consigo sequelas emocionais. Diante disso, a autora cria mecanismos de defesa para esses personagens, seja por meio do álcool, dos morfináceos ou da caça. Cada relato dessas figuras atinge profundamente, causando impacto visceral e, pelo menos em meu caso, gerando até uma pontinha de ansiedade.
O sofrimento integra-se à narrativa, como no caso de Katniss, que sofre incessantemente, um fardo que parece interminável. O ônus de proteger sua família, de sobreviver, de salvar Peeta e de ser o tordo que libertará Panem repousa sobre seus ombros, e de certa forma, nós, leitores, sentimos isso, angustiando-nos junto com a personagem. Contudo, o último livro potencializa tudo o que absorvemos nos volumes anteriores. A ação torna-se mais direta e intensa, eu diria, visceral e violenta. Os traumas tornam-se mais explícitos em seu conteúdo, com personagens imersos em agonia emocional. Finnick sofre a ponto de arrancar lágrimas a cada relato de sua dor; a mente de Peeta é revirada, transformada e deturpada. Aqui, testemunhamos a tortura emocional em seu estado mais puro. O medo desestabiliza esses personagens, pois jamais esquecemos aquilo que nos assusta. Collins, você é uma gênia.
Que desfecho impactante! A cada morte, era como se uma parte de mim também estivesse perecendo; a cada batalha, era como se eu estivesse presente com eles. E quando tudo parece chegar ao fim, a autora nos presenteia com um enredo que me fez refletir por dias (estou escrevendo isso três dias após a conclusão). As últimas páginas me comoveram profundamente! Um desfecho digno para seus protagonistas, mas com a mensagem de que nada será perfeito, nunca! Os traumas persistem, pois jamais deixam de existir; apenas aprendemos a lidar com esses pesadelos. É como um jogo, e sabemos bem que existem jogos muito piores.
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