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Crítica | Não se preocupe, querida

Foto do escritor: Caique HenryCaique Henry

Atualizado: 14 de fev. de 2024


Depois do sucesso que foi seu primeiro longa-metragem (booksmart), Olivia Wilde retorna às telonas como diretora com o polêmico “Não se preocupe, querida”. Fica nítido que Olivia está buscando o seu lugar no cinema como diretora, ela que vem viajando entre gêneros tão “distintos” (comédia teen e suspense sci fi) mas mesmo assim mostra que entende de cinema e da sua linguagem.


Em Booksmart, por exemplo, ela cria uma atmosfera (mise-en-scene) divertida, tudo em tela soa engraçado e/ou bobo, agora em “Não se preocupe, querida'', toda essa ideia divertida é subvertida em pura agonia. Eu admiro muito essa versatilidade no olhar de um diretor, mudar completamente sua abordagem e sua forma de filmar em tão pouco tempo é sinal de que entende muito de cinema.


Em seu novo longa, Olivia flerta com ideias experimentais, ela brinca com nossa percepção, faz a gente jogar o seu jogo psicológico, claro que está longe de ser um filme experimental (como o de Bunuel e Lynch), mas ainda assim, os elementos experimentais estão ali. O que mais me fascina em Wilde é essa habilidade em construir cenas de impacto sensorial, você é puxado para dentro daquele universo confuso e agoniante, cada lapso psicológico da protagonista é um lapso em nossas mentes. Afinal, sabemos tanto quanto a protagonista, somos passivos e incapacitados sendo capazes apenas de pensar e observar.



O cinema é, sobretudo, feito por pessoas com experiências e conhecimentos distintos, portanto é muito comum encontrarmos (de forma sutil ou não) discursos políticos e sociais. Sendo assim, “Não se preocupe, querida” versa muito sobre os conceitos feministas. O longa é, acima de tudo, um discurso sobre a importância da liberdade feminina, que elas têm o direito de escolha, de ir e vir. A forma como Wilde coloca isso em sua história é interessante, pois em seus dois primeiros atos tudo é muito irônico e o machismo é bem evidente, às vezes até caricato. É como se tudo dentro do filme fosse feito para causar um certo desconforto, seja de forma sensorial ou com seus diálogos/cenas machistas — escolher os anos 50 não foi por acaso, período esse que o ““papel”” da mulher era limpar a casa e ser a esposa “perfeita”. Mas dentro do filme Olivia vai desconstruindo toda essa ideia com sua protagonista Alice (Pugh), uma mulher que está em busca de sua liberdade.


Essa construção de personagem é muito significante, porque é muito fácil notar essa batalha interna e externa da protagonista, somos observadores dessa história nada mais que isso e sem o impacto imagético da personagem estaríamos completamente deslocados. Florence Pugh mais uma vez dá um show na frente das telas, acredito fielmente que sem suas habilidades esse filme não teria tanto efeito, visto que, sentimos através dela a agonia e o caos.



Gosto de como o filme é corajoso, Olivia não pensa muito em agradar a todos, ela tem liberdade e faz o filme que quer fazer. A prova disto é o seu final indigesto, que causa revolta e que mexe com o sentimento do espectador. O que muitos podem pensar como falha, eu vejo como um ato consciente de alguém que quer causar desconforto, afinal é sobre isso que o filme fala. Fiquem de olho em Olivia Wilde, ela sabe o que faz!



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