Produzir cinebiografias é, desde sempre, um ambiente muito propício para cair nas graças das premiações como Oscar e Golden Globe. Mas foi com a chegada de Bohemian Rhapsody (2018), que Hollywood brilhou os olhos para esse gênero do cinema. Afinal, o longa da banda Queen gerou um saldo muito positivo, garantindo um Oscar e faturando mais de 900 milhões.
Sendo assim, já são mais de 10 cinebiografias marcadas para estrear nos cinemas nos próximos anos, a indústria norte-americana está jogando seu futuro nas mãos das rentáveis cinebiografias. E assim Baz Luhmann está de volta, quase dez anos depois de seu último filme (O Grande Gatsby), desta vez ele adentra nesse mundo das cinebiografias para contar a história do “rei do rock”, Elvis Presley ( Austin Butler). Luhmann tem um cinema muito estilizado, exuberante, repleto de cores e exibicionismo, e é interessante perceber que seu estilo entrelaça-se perfeitamente com os ideais de showbusiness do Coronel Parker — um espetáculo que usa e abusa das cores, da interpretação e truques bem inventivos, exatamente como o cinema de Baz.
Além do seu exibicionismo, Baz traz um elemento muito muito conhecido em seu cinema, que é contar uma história pela perspectiva de outra pessoa — assim como é O grande Gatsby — O que difere das outras biografias, visto que, essas produções são normalmente contadas pela visão da estrela, mas Luhmann faz diferente e conta tudo pela ponto de vista do grande antagonista de Elvis, o seu empresário Parker. Essa ideia torna tudo muito irônico dentro do filme, os métodos e a forma como o coronel age são de sua concepção corretas. Mas para nós que somos voyeurs, percebemos que toda essa metodologia é claramente abusiva e controladora. Em “Elvis”, Baz versa sobre uma teoria que muito fascina-me, a ideia de que a arte é natural do ser humano, ela está intrínseca no nosso consciente. Afinal, arte é tão antiga quanto o homem, ela está presente desde que a espécie humana sentiu necessidade de expressar-se, e foi tudo o que restou das culturas pré históricas.
Baseando-se nessas ideias de arte e o homem, Baz constrói um primeiro ato muito mágico, onde o pequeno Elvis é atraído pela música como um peixe que é atraído pela isca. Ele (Baz) faz um paralelo entre música e religião que beira ao extraordinário, pois cria uma atmosfera divina na música, como se ela escolhesse Elvis como seu apóstolo – aquele que propagará. É belíssimo a maneira que Luhmann decupa seu filme, principalmente nas horas iniciais, nós conseguimos notar cada acorde passando através do corpo do jovem Presley. A câmera passeia pelo ambiente como se a música fosse uma entidade que observa o Elvis atentamente. A montagem é fantástica, carregada de estilo, conectando com perfeição o passado e o futuro do protagonista.
Em contrapartida, o diretor traz à tona o poder que o capitalismo tem de destruir a natureza da arte ao transformá-la em indústria — ao decorrer dos atos e do desenvolvimento do personagem, percebemos que aquele amor e prazer, que Elvis tinha na sua arte vai se esvaindo, quando tudo torna-se obrigação. Arte para o rei é vida, felicidade e amor, a partir do momento que Parker reduz tudo aquilo em cobiça e desejo, Elvis vai se desconectando com o mundo.
Falar em “Elvis” é quase impossível não mencionar a grandiosa interpretação de Austin Butler. Ele casa muito bem com toda a magia proposta por Luhmann, ela é encantador, sensual e inspirador, é sem dúvidas umas das melhores interpretações artísticas do ano. Sendo assim, “Elvis” chega muito forte para o período de premiações, lutando por conquistas técnicas e claro melhor atuação.
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