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Crítica | Tubarão

Foto do escritor: Caique HenryCaique Henry

Atualizado: 14 de fev. de 2024


Os anos 70 foi um importante divisor de águas para o cinema norte-americano (e mundial), pois foi nesse período que a era da “Nova Hollywood” começou a surgir. A “Nova Hollywood” não é necessariamente um movimento cinematográfico, mas com certeza é um momento cinematográfico muito importante para a indústria estadunidense. É relevante frisar que na década de 70 as universidades de cinema começaram a se consolidar, fazendo com o que os alunos aprendessem a unir as características do incrível cinema europeu com as técnicas business. Diretores novos e criativos começaram a ganhar espaço em Hollywood e no ano de 1975 tivemos um dos primeiros blockbusters da história cinematográfica, “Tubarão” de um jovem (27 anos) Steven Spielberg.
Costumo dizer que “tubarão” é a prova de que filmes de grandes bilheterias (blockbusters) podem sim entregar um cinema puro e de qualidade. Afinal, Jaws é uma aula de direção — onde Spielberg consegue com maestria gerar tensão sem nem mesmo mostrar o “vilão”.
O terror de Tubarão não está exclusivamente na presença do animal, mas sim em toda a ambientação que o jovem Steven cria para seu universo. Sua câmera submersa (câmera subjetiva) é claustrofóbica, que nos faz olhar pelos olhos sedentos por carne do grande tubarão branco. Tal técnica nunca fora vista antes no cinema, essa imersão era algo inovador — imagina o quão assustador foi observar aquele mundo debaixo d'água.
Por questões obviamente financeiras, Steven Spielberg opta por não mostrar o animal por mais da metade do filme, e convenhamos nem foi necessário. Ele foi genial demais em sua decupagem, unindo a trilha sonora de John Williams — que cria no filme o terror a partir da ausência do predador, pois só sabemos que o animal está ali pela sugestão da trilha sonora — e de movimentos de câmera, dentro e fora da água.
Spielberg mesmo sendo um diretor jovem, recém chegado a nova hollywood já mostrava conhecimento cinematográfico de ponta (um verdadeiro prodígio). Usando de técnicas como Pista e recompensa e Arma de Chekhov, ele cria um certo ritmo em seu filme. Pois bem, se observarmos com atenção o filme inteiro é repleto de “adiantamentos”, como a câmera que passeia pela praia lotada indicando que um ataque logo acontecerá, ou o tanque de ar comprimido que logo logo será utilizado. O mais impressionante de tudo isso é que além de ditar ritmo, essa técnica também reforça todo o suspense do filme, pois você sabe que alguma coisa ruim vai acontecer em algum momento.
Jaws é um prato cheio pra quem ama cinema, tudo funciona, principalmente a caracterização dos personagens, cada um deles tem um papel fundamental no filme. Brody, por exemplo, é a representação do homem norte-americano comum, um verdadeiro herói romântico, seu papel é simples: derrotar o inimigo em comum e enfrentar seu maior medo. Talvez o fato dele sempre se sentir vulnerável, despreparado e com medo, gere em nós uma empatia que só os "heróis" conseguem.
Na aula do Márcio (@cinemacomcritica) eu entendi que o Hooper se caracteriza como um homem teórico, aquele que tem o conhecimento, mas não a prática. Aquele que conhece os perigos da natureza, mas mesmo assim empolga-se ao entrar no mar. Enquanto, no Quint nós vemos o homem clássico, aquele que precisa da atenção para si, que gosta de demonstrar sua virilidade, que não tem medo do perigo e está pronto para morrer se for preciso. É interessante observar que em contraponto com o Hooper, Quint é o homem prático, aquele que não detém do conhecimento, mas pratica toda ação.
É intrigante notar que o negacionismo sempre existiu no mundo, e assistir Tubarão hoje é quase impossível não associar ao que estamos vivendo. Esse embate política vs ciência está bastante presente no filme, fazendo do prefeito o verdadeiro vilão — que preza muito mais pelos fins lucrativos do que pelo bem social de sua cidade. No fim, Tubarão é a prova de que não é preciso de grandes efeitos visuais para realizar um bom filme.

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