Costumo chamar o cinema como “arte do mundo”, pois com ele podemos atingir todas as massas e classes da nossa sociedade, afinal o cinema passeia entre o entretenimento, propaganda e a educação. Um bom exemplo é o período da Segunda Guerra Mundial, no qual o cinema era o principal meio de propaganda, tanto nazista quanto norte-americana.
Aquele primeiro de setembro de 1939 ficou marcado na história pelo início de um das maiores atrocidades da humanidade. Onde podemos destacar acontecimentos chocantes, como a perseguição aos judeus, batalhas sanguinárias e o uso das bombas nucleares. Sendo assim, é muito comum que grandes impactos históricos como esse tornem-se referências para o cinema, não à toa a segunda guerra é o período mais adaptado para as grandes telas.
Além das grandes batalhas históricas, a Segunda Guerra foi um grande palco político que gera até os dias atuais reflexões das brutalidades políticas causadas pela Alemanha nazista. E saindo desse meio das batalhas heroicas “A conferência” nos apresenta a definição sobre a solução final para a questão Judaica na Europa, um relato político tão aterrorizante quanto qualquer batalha.
Essa conferência datada no dia 20 Janeiro de 1942 foi totalmente documentada e é interessante que o longa tem uma precisão quase documental. O diretor e os roteiristas construíram diálogos e situações muito reais. Além dessas referências documentais na mise-en-scène, o diretor soube trabalhar muito bem com o impacto imagético no espectador, visto que “A CONFERENCIA” é um filme frio — não no sentido de menosprezar o acontecido mas de dotar aqueles personagens certa frieza ao tratar do genocídio de milhões.
A fotografia tem um papel fundamental nesse impacto, ela é séria, austera e uniforme, que se aproveita do clima frio da região e da iluminação de um dia cinza, para valorizar a frieza e o desdém daqueles homens inescrupulosos. “A conferência" é um filme que nos permite sentir repulsa e desprezo por todos que estão naquela mesa, mesmo que eles tenham visões diferentes sobre a “solução”.
Gosto de como tudo é muito direto, dando pouco espaço para a dramaticidade, mesmo que a câmera passeie pelo cenário, não é pra deixar tudo mais estilizado mas pra mostrar o olhar maldoso de cada um presente naquela sala. Seus olhares não são de remorso, pelo contrário estão repletos de ódio e nojo (impossível não sentir raiva deles). Matti Geschonneck faz de tudo para nos causar desconforto e nos aproximar ainda mais daquele ambiente, não por acaso em nenhum momento escuta-se trilha sonora, ele não precisa — a "freneticidade" da câmara, os diálogos que nunca se cessam são o suficiente.
“A conferência” coloca em reflexão a barbaridade da humanidade e como um simples assinar de papel pode causar a execução de milhares de homens, mulheres e crianças inocentes. O poder nas mãos erradas é devastador para toda a existência.
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