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Crítica | Exorcismo Sagrado

Foto do escritor: Caique HenryCaique Henry

Atualizado: 14 de fev. de 2024


De acordo com as pesquisas feitas por Bo Mccready o terror/horror é um dos gêneros cinematográficos que mais cresce ao longo dos anos, e vale observar em como esse gênero vem se direcionando a dois caminhos: o terror "psicológico" que busca mais incomodar o telespectador do que causar medo; e o terror sagrado que versa sobre a luta da fé contra o mal demoníaco.


Mas por que esses elementos de cultismo aparentemente tão distintos se misturam tanto no cinema?

Quando pensamos em terror religioso a primeira coisa que nos entra em mente é o clássico O exorcista ou então a nova franquia Invocação do mal, afinal histórias de possessão demoníaca acabam, de certa forma, versando sobre religião, aproveitando-se da fé para questionar as convenções e tabus religiosos, colocando em cheque a fé de seus personagens. Filmes com esse viés em sua maioria apresentam padres que de alguma maneira já questionaram sua fé ou, como o protagonista de Exorcismo Sagrado já “pecaram”.

O medo da morte e o que acontece após ela é mais um fator que une o terror e a fé. Pois o medo da morte nos faz questionar o que acontece quando morremos, lidar com uma possível situação de que não existiremos depois daqui causa desespero. E as religiões de algum modo também trabalham com essa angústia do medo da morte, afinal você só encontra o paraíso se for bom, e de que o inferno te espera se você for mau. É através dessas ideias e crenças que os filmes de terror sagrado nutrem-se.

Desta forma, não é tão surpreendente que o horror e a religião se dão tão bem. O gênero do terror aproveita da “bondade incondicional” da religiosidade para subverte-la, questiona-la e ironiza-la.

Sendo assim, Exorcismo Sagrado aproveita-se do hype e se obtém do terror religioso, contando a história de um padre americano que trabalha no México, e é considerado um santo por muitos paroquianos locais. No entanto, devido a um exorcismo fracassado no seu passado, ele carrega um segredo até que ele tenha a oportunidade de enfrentar seu demônio pela última vez.

O filme de Alejandro Hidalgo tem como objetivo corromper os dogmas religiosos. O longa funciona como uma crítica ao sistema religioso e seus “santos” em terra - partindo disso, temos um padre pecador, um padre que faz pacto com o demônio, pessoas que questionam e perdem sua fé com facilidade e um demônio que vence. Ou seja, em seu subtexto, Hidalgo adultera aqueles que deveriam ser incorruptíveis, aqueles que deveriam ser dotados de toda “Graça”.

Em relação a construção do terror Alejandro faz uma verdadeira homenagem ao cinema clássico de O exorcista ( a cena de abertura prova isso). Assim como o cultuado filme de 73 que usa da luz e da sombra para criar uma alegoria entre Deus e diabo, Exorcismo Sagrado faz o mesmo - em inúmeras cenas podemos ver como o preto da escuridão domina o ambiente, como se o próprio demônio fosse ganhando mais poder de tela a cada cena.

A forma como ele decupa a sua mise-en-scène, com posicionamentos de câmera fora do eixo de costume humano - ângulos diagonais, ângulos zenitais (A câmera é colocada acima do cenário, assim podemos observar a pessoa ou objeto em um ângulo de 90º de cima para baixo) e contra zenitais (a câmera aponta completamente para cima) - muito me agradam. É seu formalismo que tenta ditar o ritmo do terror, nos causando desconforto no olhar. Ademais, o trabalho com o som (o desconforto auditivo) configura bem a cadência dos jump scares.

Os famosos jump scares, aqueles sustos repentinos que nos últimos anos têm sido utilizados com tanto desdém e previsibilidade estão bastante presentes no longa. No entanto, Exorcismo Sagrado utiliza desse mecanismo com certa habilidade - Alejandro brinca com a nossa atenção no filme, pois quando acredita-se que naquela situação acontecerá um grande susto, somos frustrados causando relaxamento. Entretanto, logo em seguida ele te assusta, de maneira inesperada o que torna a experiência ainda mais assustadora. Em virtude disso, unindo forma e conteúdo, Hidalgo faz um filme que critica, incomoda e assusta, o que para mim tá valendo.




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