O cinema é uma arte muito interessante, ele explora a nossa empatia, nossos sentimentos e sensações. Filmes melodramáticos como Creed III contam histórias de pessoas, com medos, frustrações, dores e conquistas, assim como nós, meros mortais. Acaba, portanto, sendo muito difícil ver essa franquia e não me sentir tocado por essas historias de luta, força de vontade e dedicação.
Tudo que passou na minha vida e na do meus pais foi envolto de muita luta, jamais esquecerei dos ensinamentos e de como meu pai adorava/adora recitar Rocky Balboa… “Não importa o quanto você bate, mas sim o quanto aguenta apanhar e continuar”. E mesmo com tão pouco tempo de vida (22 anos) nada foi fácil para mim —- nunca fui o mais brilhante, o mais inteligente ou o mais habilidoso, mas sempre existiu uma força em mim que nunca entenderei de onde vem. Apesar do mundo ficar contra mim algumas vezes, minhas lutas nunca foram contra ele, mas contra mim, do mesmo modo que para Adonis Creed, que vive preso por seus pensamentos, enclausurado pela sua dor.
Michael B Jordan (em seu primeiro filme como diretor) faz um filme muito particular, ele transmite pelo olhar da câmera ‘melodramática' toda a dor de Adonis — melodrama que usa meios formais para atingir as emoções do espectador. Não existe em nenhum grau complexidade em Creed III, pelo contrário, tudo gira em torno de uma certa frontalidade pessoal, uma relação sincera entre os personagens, o boxing e o espectador.
Por esse motivo, Creed III pode soar apelativo (no sentido de querer “forçar” os sentimentos dos espectadores ), principalmente quando falamos de um cinema contemporâneo, que nega a todo custo o cinema melodramático. Ok, o longa pode até ser um pouco exagerado, mas todo esse “abuso” de closes e da câmera lenta tem um valor muito significativo na narrativa de seus protagonistas. Para Michael, esses artifícios formais são maneiras de expressar o conflito interno deles. O boxing vai além do entretenimento e da ação, a luta tem um valor emocional para Creed e Dame. É apenas no ringue mental que ambos podem libertar-se do passado. Dame e Adonis lutam contra quem eles eram, quem são, e contra quem querem ser — B Jordan deixa isso óbvio quando filma seus protagonistas encarando seus reflexos.
Afinal, a vida não é assim? Uma luta constante contra nosso passado, presente e futuro? Uma árdua batalha contra nossos fracassos e desafios? Bom, pelo menos enxergo as coisas assim, luto constantemente contra meu passado, visando sempre o futuro. Assim como Adonis Creed, quero vencer os meus pensamentos mais tortuosos.
B.Jordan faz uma homenagem ao cinema do Rocky Balboa, que sempre nos deixou uma moral, um ensinamento que é passado de pai para filho. O conteúdo principal em Creed III é que você não pode fugir do passado, e a única maneira de seguir em frente é tendo coragem para enfrentá-lo. Eu me sinto muita das vezes um Adonis/Dame, que tem medo dos fracassos passados, que tem medo de nunca sarar as feridas do tempo. Não à toa, o confronto final torna-se bastante significativo, cada Jab dado por eles é uma maneira de se defender do passado e cada pancada sofrida é o pretérito lhes ensinando que não é sobre bater mas o quanto aguentam apanhar.
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