top of page

Crítica | A marca da maldade

Foto do escritor: Caique HenryCaique Henry

Atualizado: 14 de fev. de 2024


Orson Welles é com certeza um dos maiores diretores que esse planeta já viu, ele foi o precursor de inúmeras formas de fazer cinema, sendo dono de “Cidadão Kane”, o filme que revolucionou de certa forma a sétima arte. E “A Marca da maldade” é mais uma de suas ótimas façanhas. No longa vemos Miguel Vargas, um detetive mexicano muito competente e conhecido, que está de férias com sua noiva, Susie, na fronteira entre EUA e México. Até que naquele momento um carro-bomba explode e Miguel Vargas inicia uma investigação junto com o capitão americano Hank Quinlan.


Quando Vargas suspeita que o policial Quinlan e seu parceiro Menzies estão plantando evidências falsas para incriminar um homem inocente, seus achados põem a vida dele e de sua noiva em perigo. O preconceito contra mexicanos está muito presente na trama do filme. Discriminação que está na persona do capitão Quinlan, que é interpretado pelo próprio Welles. Quinlan é um típico norte americano da época, patriota e defensor de uma “América para americanos”. Mesmo que isso não seja dito, fica claro nas entrelinhas.



Orson faz um filme corajoso que, para mim, soa mais como uma crítica ao seu sistema. Orson foge do padrão, colocando o homem americano como um antagonista, enquanto o homem honesto, de boa índole e carismático é um mexicano. Embora que em “A Marca da Maldade” apresente alguns estereótipos, como a máfia da família mexicana, fica claro que Orson não utiliza disso como ofensa, mas sim como método narrativo. “A Marca da Maldade” tem uma presença “noir” muito grande em sua mise-em-scène, os cenários opressores que subjugam os personagens é um grande exemplo. Orson Welles faz com que, em suas cenas, o ambiente ao redor fique gigante em relação aos personagens, sendo quase engolidos, que por meio da profundidade de campo deixa toda a cena em foco.


Para evidenciar mais essa opressão, Welles utiliza do contra plongée(uma técnica de enquadramento), que de forma impactante oprime seus personagens, quase como uma boneca viva que é facilmente controlada pelo meio da casinha de bonecas, incapaz de se impor perante aquele ambiente. Os cenários são quase como uma entidade própria daquela estória, que mesmo de forma sutil está presente. Outro momento em que Welles utiliza desta técnica de enquadramento é com o próprio capitão Quinlan - um personagem muito imponente e soberbo - onde Orson usa do contra plongée buscando um ângulo, de forma que deixe Hank superior diante das outras pessoas. Os únicos momentos em que Hank não tem total domínio são na presença de Vargas, ou quando fala de sua falecida esposa, ou seja, nos seus momentos mais vulneráveis.



Quinlan é provavelmente o personagem mais complexo e, talvez, o mais humano. Pois é possível identificar uma tridimensionalidade em seu comportamento, um homem que se diz justo mas faz injustiças, um homem que faz a lei usando o contra-lei, tais nuances estão presentes em todos nós. Welles busca o lado humano, demonstrando como somos suscetíveis a atos errôneos em prol do que acreditamos ser o certo, e também como somos muitas vezes manipulados por quem tanto admiramos. Este último se apresenta em Menzies, que enxerga o seu parceiro como um verdadeiro policial honesto e puro. Menzies é apenas mais um cego pelo seu amor incondicional, desvairado pela sua admiração. ‘A Marca da Maldade’ é um show de direção, Welles é cirúrgico em sua decupagem, trabalhando bem com os jogos de luzes e iluminação, manipulando as nossas emoções através delas. Com a manipulação das luzes, ele causa agonia, tensão e de certa forma até o horror no espectador.


2 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


Post: Blog2_Post
bottom of page